SAMANTA AQUINO
( Brasil – Minas Gerais )
Escritora, poetisa e ativista cultural/social.
Nasceu em Matozinhos/MG, cidade localizada no Vetor Norte da Região metropolitana de Belo Horizonte.
Em 2019, tornou-se membro efetivo da Academia Matozinhense de Letras, Ciências e Artes (AMALETRAS). Ocupando permanente a cadeira 25 do segmento Literatura. Em 2020, lançou seu primeiro livro solo: Memória de Anne Rose. Participou de diversas antologias literárias.
Instagram pessoal: @samantaaquino_04
CENA poética 8 , incluindo contos. Editor: Rogério Salgado. Belo horizonte, MG: RS Edições & Baroni Edições, 2022. 200 p. 14 x 21 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
Águas vindas de um equinócio.
"Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
"Antigamente eu era eterno."
Paulo Leminski.
Está chovendo!
Está chovendo tanto!
Só que aqui dentro,
Já não escrevo, sorrio,
Não me divirto com o passar
Dos dias, das estações.
Ontem o outono chegou,
Pintou o Hemisfério Sul
De sonho, silencio
E uma amarga solidão!
É por isso que escrevo.
É por isso que resisto.
Tiro férias da arte de esquecer
Quem sou por essas linhas,
Pois não me sinto inteira.
Falta... Falta... Felicidade!
Dói a falta de ser e estar
À vontade no mundo.
Me falta liberdade,
Mesmo ela sendo pouca
E por hora, sem verdade,
Sem a vaidade de sentir
A mais bela obra da natureza,
Que guia o voo
Para a solitude do infinito,
Do que pouco é compreendido
E sim, imensamente sentido.
Ah! Vida, não entendes
Que sendo crua, cruel,
Sendo insuportável como fel,
Não terás quem te ame,
Te idolatre, te devore,
Devote o teu mistério
De ser tão linda, pura
E a mais intrínseca professora.
Ensina as meretrizes
A aproveitar o ardor
Das noites profanas, envolventes.
Ensina o poeta
A escrever desatinos
Por entre linhas tão tingidas de escuro,
Como o "Blues do Iniciante".
Ensina o menino
A empinar a pipa.
Ensina o vento
A semear os caminhos laboriosos
De quem nada tem,
Mas tudo possui,
Apenas por viver e conhecer
A dádiva de ser grato.
Vida! Vida! Não me dês pompa,
Luxo metálico, tangível,
Me dês o que há em teu
Tristonho, risonho destino,
Que assim, farei desse desatino
Aquilo que me fará forte
E do teu sangue latino,
O combustível para que eu
sinta tua chama invadir minhas têmporas,
Queimar-me, purificar-me;
Para, enfim, estar presente naquela cova
Que me aguarda em prontidão,
Fazendo célere a minha certeza,
Fazendo brilhante o esvair
De tudo o que foi sagrado, experimentado,
Eternizado por este pobre coração.
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